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26 de Novembro de 2015

Daniel Dias explica por que Brasil é tão bom no esporte paralímpico

O desempenho da equipe brasileira no Parapan de Toronto foi espetacular. A delegação terminou a competição na primeira posição no quadro de medalhas (109 ouros, 74 pratas e 74 bronzes) e assombrou mesmo potências olímpicas. As 257 subidas ao pódio elevaram o time verde-amarelo a melhor campanha na competição, mas também levantaram a dúvida: por que o Brasil é tão bom no esporte paralímpico? Principal nadador do País, Daniel Dias credita os resultadosà  experiência do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e os profundos investimentos nos últimos anos. (O investimento veio aumentando no esporte paraolímpico. Tendo investimento, o atleta consegue se dedicar mais ao esporte e acaba tendo um desempenho melhor), explicou Dias. A entidade responsável por gerir o esporte paraolímpico nacional é o principal responsável pelos investimentos necessários em cada modalidade. Ultimamente, o CPB aposta no incentivo ao esporte o que resultada na evolução dos atletas. Essa questão de investimento tem aumentado, claro, mas muito desse desempenho se deve ao planejamento estratégico e técnico que o Comitê tem. A gente fez um planejamento desde as últimas paraolimpíadas e a gente tinha algumas metas a cumprir), disse a gerente de marketing Renata Fernandes. Segundo dados que se encontram disponíveis no próprio site da instituição, em 2013, a receita foi de mais de R$ 100 milhões, advindos de recursos da Lei Agnelo/Piva, convênios com o Ministério do Esporte, parceiras com o Governo de São Paulo e a Prefeitura do Rio de Janeiro além do patrocínio da Caixa para cerca de 13 modalidades. Além dos incentivos planejados para o Rio 2016, boa parte dos paratletas que competem representando o Brasil fazem parte do grupo de beneficiados pelo programa Bolsa Atleta. De todos os atletas brasileiros que conseguiram alguma medalha no Pan de Toronto, 181 recebem o benefício, sendo que cerca de 69 deles se enquadram na categoria pódio do programa, que contempla os atletas com salários mensais que vão desde R$ 5 mil até R$ 15 mil. (Ter o apoio de empresas grandes que acreditam no esporte paralímpico é muito importante. Eu fico extremamente feliz, eu tenho que agradecer muito esse apoio todo porque isso é uma tranquilidade a mais para que eu possa me dedicar exclusivamente aos treinos), disse Dias. Há ainda a construção do Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. A obra, que custou cerca de R$ 260 milhões, começou em 2013 e deve ser entregue até o início do ano que vem. Quando pronto, o Centro de Treinamento vai abrigar cerca de 15 modalidades com toda a infraestrutura necessária para construir e manter o nível dos atletas de ponta. O Centro de Treinamento é um legado do movimento paraolímpico. Para os atletas, a oportunidade de estarem lá, todos juntos treinando, vai ser um processo que vai ajudar muito mais nos resultados positivos. Mas mais do que isso, o Centro é um legado para o país. O País não tinha um Centro de Treinamento Paraolímpico. Existem até algumas estruturas isoladas e espalhadas pelas regiões do Brasil, mas não em um lugar concentrado. Conseguir juntar tudo isso e fazer tudo acontecer em um único lugar foi uma grande vitória do esporte), ressalta Renata. Para Daniel, o Centro de Treinamento é uma garantia de que o apoio ao esporte paralímpico não vai acabar. (Eu acredito que esse Centro que está aí é a prova de que tudo não vai acabar. Depois de 2016, vem 2020 e as coisas vão continuar até porque eu quero conhecer Tóquio, eu tenho muito futuro no esporte ainda), aposta Dias. Ídolos inspiradores de gerações Com o crescimento do esporte paralímpico e a grande quantidade de atletas vencedores em suas modalidades, o Brasil começa a entrar em uma fase em que pessoas com alguma deficiência se sintam motivadas a práticar esporte através de seus ídolos. O também nadador Clodoaldo Silva, que depois de levar seis medalhas em Atenas 2004, serviu de inspiração e incentivo para muitos atletas não desistirem da carreira. Clodoaldo incentivou nomes como Daniel Dias e André Brasil, multimedalhistas das piscinas que, por sua vez, influenciaram a nova geração da modalidade que conta com nomes como Thalisson Glock, Phelipe Melo e Ruiter Silva, gerando um efeito de incentivo em cadeia. Número de pessoas com deficiência no País A delegação brasileira conta com um grande número de atletas já competindo, sem contar os que seguem em preparação para se tornarem atletas profissionais. Um fator que contribui para isso é o grande número de pessoas com deficiência no Brasil. Segundo o CENSO de 2010 do IBGE, 23,9% da população brasileira tem algum tipo de deficiência, ou seja, cerca de 45 milhões de pessoas. Em um comparativo, esse número é maior do que toda a população da Argentina ou do Canadá. Preconceito no mercado de trabalho comum Um dos fatores apontados como incentivador do deficiente ao esporte é a falta de oportunidade no mercado de trabalho. Segundo a Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego, em 2013 somente 357,8 mil deficientes no País tinham algum vínculo empregatício. Esse número representa apenas 0,73% do total de pessoas nessa condição no Brasil, o que significa que a maioria esmagadora não tem acesso ao mercado de trabalho. Do outro lado, as empresas acabam assumindo o preconceito. Segundo uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Recursos Humanos em 2013, 65% dos gestores que participaram do levantamento assumirão ter algum tipo de resistência em contratar profissionais que possuam algum tipo de deficiência. Outro número que assusta mostra que 93% desses gestores preferiam nem entrevistar esses tipos de profissionais. Daniel Dias explica que às vezes, o preconceito surge do próprio deficiente: (Às vezes o preconceito está dentro dele mesmo e eu acredito que o esporte é uma grande ferramenta para mudar isso. O esporte é uma grande ferramenta pra mostrar que o deficiente pode ser um campeão na vida, independente da escolha que ele fizer, da profissão que ele escolher. A gente tem que sonhar e os sonhos estão aí para serem realizados. Hoje eu não tenho os braços mas eu toco bateria. Os nossos sonhos somos nós quem construímos e o limite está dentro da cabeça de cada um), revelou. O Comitê acredita que o resultado da delegação brasileira no Parapan de Toronto é a prova viva de que o esporte, quando bem incentivado e estruturado, rende bons frutos. Com ainda mais incentivos, cada vez mais atletas de ponta estarão em condições para representar o Brasil em competições internacionais. O próximo desafio será em casa, nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016. A competição acontece de 7 a 18 de setembro.

Fonte: Marcela Cappato, estagiária do R7

Deficiente Saúdavel Esporte Paralimpico

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