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31 de Março de 2021
Cuidados nutricionais e com a saúde, através de esportes, são indicados por médicos de diferentes especialidades para pacientes em todas as idades. Para incentivar a prática, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a data de 31 de março como o Dia Mundial da Saúde e da Nutrição.
Em meio à pandemia, além das preocupações inerentes à possibilidade de contágio por Covid-19, o isolamento também dificultou diversas práticas esportivas, fazendo com que muitas pessoas deixassem de lado os cuidados com a própria saúde.
Para Camila Dornelles, nutricionista do CEJAM, os brasileiros ainda dão pouca atenção à saúde nutritiva, mas o cenário pode mudar a partir da disseminação de informações que deixem clara a ligação entre saúde e boa alimentação. Confira a seguir:
– As pessoas, de modo geral, ainda se preocupam pouco com sua nutrição? Como fomentar esse cuidado entre populações mais amplas?
Sim, as pessoas se preocupam muito pouco com a nutrição, mas percebo que, na maioria das vezes, isso está ligado à falta de informação. O paciente tem o diagnóstico de determinada doença, como diabetes ou hipertensão, por exemplo, mas não sabe como lidar com isso. Ou seja, ele acha que o medicamento é suficiente para o tratamento e não percebe que a própria doença pode ter surgido por conta de deficiências nutritivas.
Quando atendo pacientes nas Unidades Básicas de Saúde, gerenciadas pelo CEJAM, percebo isso, de modo geral. Há também uma dificuldade em adotar uma alimentação saudável. Lavar uma salada, preparar um vegetal ou fazer uma refeição dá mais trabalho do que buscar algo que já está pronto. Assim, as pessoas acabam optando por alimentos processados e ultraprocessados em seu dia a dia.
Antes da pandemia, era mais fácil incentivar os cuidados nutricionais e conseguíamos promover grupos, por exemplo, com pacientes de todas as idades. As pessoas contavam também com atividades físicas associadas a orientações nutricionais. Atualmente, no entanto, os grupos estão suspensos. Estamos promovendo atendimento individualizado e fazemos a divulgação deste trabalho através de cartazes, panfletos e ações nas comunidades, sem aglomeração, através de agentes de saúde que visitam as casas e a partir dos médicos, que encaminham os pacientes nas unidades.
– Os hábitos alimentares foram alterados durante a quarentena? De modo geral, estamos nos alimentando melhor? Por quê?
Sim, os hábitos foram alterados quase 100%. E para pior, tanto em qualidade como em quantidade. Em razão do tempo maior em casa e do aumento da ansiedade, os pacientes estão comendo mais vezes ao dia e têm grandes dificuldades no preparo dos alimentos.
O número de pacientes com obesidade aumentou muito. As crianças, principalmente, tiveram um aumento de oito a dez quilos neste período de isolamento. Antes da pandemia, os adultos que participavam dos grupos já haviam melhorado sua qualidade nutricional no dia a dia, apresentavam resultados melhores em relação ao nível de açúcar e colesterol e haviam diminuído peso. Todos passaram por alterações negativas durante a pandemia.
– O que essa piora na alimentação causou aos pacientes?
Muitos ganharam peso. Estão consumindo muito mais por ficarem isolados dentro de um mesmo ambiente, comem muitos carboidratos, muitos alimentos processados, como biscoito recheado, e ingerem mais doces e refrigerantes. O consumo de frutas, legumes e verduras destes pacientes diminuiu muito.
A qualidade alimentar caiu e, por isso, estamos incentivando esses pacientes a irem ao menos uma vez por semana em uma feira, um sacolão, seguindo todos os cuidados necessários, para adquirir alimentos naturais. Incentivo a preparar alimentos para a semana inteira, para facilitar esse cotidiano, e fomento a troca de alguns alimentos por outros, ressaltando o custo-benefício da mudança. De forma geral, os hábitos foram muito alterados e só pioraram.
– Um dos mitos sobre a boa nutrição é que ela tem um custo financeiro alto. Gostaria que falasse sobre isso. É possível ter uma boa nutrição gastando pouco?
É algo com o qual trabalho diariamente, pois atuamos na grande periferia de São Paulo. E é justamente isso que mostro aos meus pacientes no dia a dia. Não é necessário ter esse alto custo. Nós trabalhamos com o que os pacientes têm em casa, indicando, inclusive, o que eles podem trocar a partir do custo que têm com determinado alimento por outro que seja melhor. Às vezes, a pessoa pensa que irá à nutricionista e terá que comprar queijo branco, nozes, castanha… Isso não é verdade. Eles é quem irão me trazer o que têm em casa.
Atualmente, por exemplo, tenho uma paciente que é diabética e só tem condições de comprar uma proteína: o ovo. Trabalhamos, então, para melhorar a alimentação a partir do ovo, alterando a forma de preparo, os acompanhamentos. Além disso, sempre verifico o que podemos trocar. Quais alimentos podemos inserir na rotina dessa paciente para fazer um controle glicêmico adequado.
Se o paciente me fala que consome biscoito, salgadinho e suco em pó, pensamos no que ele pode adquirir com esse custo. É possível inserir mais frutas, verduras e legumes no dia a dia, por exemplo. Ter uma boa nutrição não é uma questão de disponibilidade financeira e, sim, de qualidade. Sempre oriento a irem à feira em seu período final, a compararem preços de supermercados e sacolões.
Alimentação é aquilo que você tem em casa. É arroz, feijão, alface e ovo que o paciente tem? Então, iremos trabalhar em cima disso. Se você tem condições de consumir um peixe uma vez por semana, iremos trabalhar com isso. Não falo apenas sobre os alimentos, falo também sobre como prepará-los. Prezo pela alimentação saudável, a boa nutrição e a qualidade da alimentação, mas pensando sempre no custo para o paciente. Vou alterar apenas o que é possível.
– Qual é a importância desta campanha, que reserva um dia específico para falar sobre saúde e nutrição?
Essa campanha é muito importante, pois damos o conhecimento às pessoas e mostramos como e onde elas estão errando, como podem melhorar e quais as consequências se mantiverem seus estilos de vida. Nós plantamos essa sementinha diariamente, mas reservar um dia é importante para mostrar a possibilidade de buscar mais conhecimento, melhorar a qualidade de vida e, consequentemente, a saúde em geral.
– Qual é a relação entre uma alimentação saudável e uma saúde privilegiada? É possível dizer que a alimentação saudável é tão importante quanto a prática de exercícios físicos para pessoas que desejam ser mais saudáveis?
Sempre falo no atendimento, principalmente quando atendo em conjunto com a educadora física, que uma coisa é consequência da outra. Para ter uma saúde privilegiada, é preciso ter hábitos de vida saudável. E isso abrange todos os aspectos: alimentação, prática de exercícios físicos, saúde mental equilibrada e boa noite de sono. Em geral, precisamos de todos esses aspectos para estar bem.
Às vezes, o paciente chega com um diagnóstico e acha que apenas tomar o remédio é a fórmula mágica para resolver os problemas. Sempre falamos sobre a ideia de um tripé, que compreende a alimentação, a medicação e o exercício físico. Não adianta só fazer o exercício físico, ou só melhorar a alimentação, ou só tomar a medicação, porque um depende do outro. Então, se eu quero ter uma saúde privilegiada, eu tenho que buscar uma qualidade de vida, em todos os aspectos.
É preciso procurar um exercício que o paciente goste, para que ele siga fazendo de forma natural. E, na alimentação, sempre falo às pessoas que não trabalho com dieta ou regime. No consultório não existe restrição alimentar. Não estou ali para impor algo e, sim, para ser uma parceira, para melhorarmos em todos os aspectos. Vou ajudar, auxiliar e orientar, mas quem vai colocar em prática são eles.
Fonte: Imprensa, Criação & Marketing
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