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Bem Viver

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19 de Maio de 2015

Renato Souza, do Médicos sem Fronteiras, fala sobre suas experiências durante Missões Humanitárias

Palestrante desta segunda-feira, durante a comemoração da Semana da Enfermagem, Renato Souza, da coordenação médica da organização Médicos sem Fronteiras (MSF) contou um pouco sobre sua experiência de mais de 20 anos atuando como enfermeiro humanitário, em doze missões realizadas em diferentes países.

Ao final da apresentação respondeu diversas dúvidas dos participantes e abordou temas como questões éticas, realização profissional e outros assuntos. Confira:

Como a ajuda humanitária do MSF é solicitada?

Vivemos situações diferentes. Às vezes o próprio país solicita nosso trabalho. Às vezes um grupo de pessoas.  Às vezes, nós mesmos analisamos situações de emergência. Mas toda a ação passa por uma avaliação antropológica para estudar sua viabilidade.  

O MSF tem algum tipo de vínculo com a ONU?

Não. O MSF atua de forma independente, neutra e imparcial e não pode se envolver com qualquer outra organização a fim de evitar qualquer tipo de rejeição em qualquer país. Também somos totalmente desmilitarizados.

Durante sua palestra, foram relatadas experiências “fortes” vividas em zonas de guerra, catástrofes naturais e mesmo de extrema pobreza que provocam grande impacto psicológico. É oferecido que tipo de apoio aos profissionais?

Quando é detectado um comportamento estranho em um profissional, ele é retirado imediatamente de campo e recebe um suporte psicológico da equipe. Lembro-me de dois casos: no Haiti, uma enfermeira, após poucos dias, chorava o dia todo e acabou desistindo. Já um profissional da logística vomitada todos os dias. Com o apoio, ele permaneceu até o final.

Depois de tantas vivências em lugares de guerra é possível manter a fé na humanidade?

Sim. Eu acredito na capacidade do ser humano se regenerar, mas sei que é um processo muito longo. A grande evolução intelectual e moral do ser humano é respeitar a si e respeitar o outro. Esse é nosso propósito.

Com tantas experiências vividas, qual o sentimento mais presente em sua vida?

Todas as noites eu penso que poderia ter feito melhor. Que poderia dar mais de mim. Mas ao mesmo tempo sei que preciso “me economizar”, se não fizermos isso, não resistimos. Agradeço também todos os dias por ter sobrevivido. Todo final de dia tenho o sentimento de gratidão por estar vivo.

Qual a situação em que mais se sentiu próximo da morte?

Temos um investimento muito grande emsegurança e um protocolo bem grande a ser seguido. Quando trabalhamos na fronteira com o Afeganistão, tínhamos um  briefing de segurança interminável. Mas minha vivência mais impactante foi quando a aldeia em que estávamos, no Congo, foi bombardeada.

Como ficam as relações familiares permanecendo tanto tempo longe? Qual sentimento você traz a cada missão?

É preciso ter desprendimento. Eu sempre fui muito cigano. O “sair” e “entrar” da “redoma” familiar quebra um pouco a barreira da afetividade. Você perde alguns valores, mas ganha outros e, ganha muito. Viver no conforto do lar pode ser confortável para o corpo, mas nem sempre é para a alma. A cada viagem ampliamos nossas ligações e os laços de energia entre o grupo são muito grandes.

Já sentiu um grande desejo de desistir e voltar para casa?

Na Etiópia vivi uma situação muito difícil. Tudo era muito ruim e eu chorava todos os dias. Sumia da base e andava pelo deserto para refletir. Mas este foi o momento em que fui mais forte em toda a minha vida. Com aquelas caminhadas no deserto comecei a melhorar. Lá, encontrei a energia necessária. Todo mundo precisa de um momento no deserto. O silêncio diz muito. No final, a missão era de seis meses e eu acabei ficando sete.

E qual a missão que te traz as melhores lembranças?

É justamente essa. O deserto, seu cheiro, o cavalgar dos camelos. Recordo com muito carinho. Às vezes é na dificuldade que você se reconstrói.

Como ficam as questões éticas em lugares com tamanhas dificuldades?

Quando você sai do Brasil e vai a lugares como o Sul do Sudão, por exemplo, é preciso “esquecer” algumas questões éticas. É preciso fazer o que se tem que fazer desde que o profissional esteja seguro para isso. Antiético é não fazer. Na verdade, “o moral é o filtro do ético”.

O que te ainda te motiva?

Isso é algo que vem realmente de dentro. Olho para trás e vejo que não entrei para as “estatísticas” de pessoas que tem casa, carro, mas se sentem frustrados. Me sinto bem e sou uma pessoa realizada. 

Fonte: Luciana Zambuzi - Assessoria de Imprensa CEJAM

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